Batalha de Quitombo

Batalha de Quitombo
Guerra Civil do Congo

Reino do Congo e vizinhos ca. 1711
Data 18 de outubro de 1670
Local Quitombo, Angola
Desfecho Decisiva vitória soio-congolesa
Beligerantes
Reino de Portugal Reino de Angoio
Principado de Soio
Comandantes
João Soares de Almeida Conde Estêvão da Silva
Forças
Desconhecido Desconhecido, mas com
mosqueteiros holandeses
Baixas
Baixas Desconhecido, mas
incluiu Paulo da Silva
Campanhas coloniais portuguesas
Conflitos prolongados mostrados em negrito
Data  Região 
1415 Ceuta
1437 Marrocos
1458 Marrocos
1468 Marrocos
1471 Marrocos
1478 Guiné
1487 Marrocos
1490 Marrocos
1501–02 Índia
1502 Índia
1503 Índia
1504 Índia
1506 Índia
1507 África Oriental
1507 Hormuz
1508 Índia
1509 Índia
1510 Índia
1511 Malaca
1514 Marrocos
1515 Marrocos
1517 India
1521 China
1522 China
1523 Arábia
1526 Índia
1531 Índia
1538 Índia
1541 Mar Vermelho
1541 Mar Vermelho
1542 África Oriental
1546 Índia
1548 Arábia
1551 Arábia
1552–54 Arábia
1553 Golfo Pérsico
1558 Brasil
1559 Índia
1561 Japão
1562 Marrocos
1567 Brasil
1568 Malaca
1569 Achém
1570–75 Índia
1580–83 Oceano Atlântico
1580–89 Oceano Índico
1581 Damão
1587 Jor
1601 Java
1606 Malaca
1606 (ago) Malaca
1612 Índia
1614 Brasil
1619 Ceilão
1622 China
1622 Angola
Data  Região 
1624 Brasil
1625 Pérsia
1625 Brasil
1625 Costa do Ouro
1629 Malaca
1630 Brasil
1631 Brasil
1638-39 Índia
1671 Angola
1637 Costa do Ouro
1638 Índia
1638 Brasil
1639 Índia
1640 Brasil
1640–41 Malaca
1645 Brasil
1647 Angola
1648 Brasil
1648 Angola
1649 Brasil
1652–54 Brasil
1654 (mar) Ceilão
1654 (mai) Ceilão
1665 Angola
1670 (jun) Angola
1670 (out) Angola
1696–98 Mombaça
1710 Brasil
1711 Brasil
1729-32 Índia
1735–37 Banda Oriental
1752 Índia
1756 América do Sul
1761–63 América do Sul
1762–63 Sacramento
1768-69 Angola
1774-78 Angola
1776–77 América do Sul
1809 Guiana Francesa
1816–20 Banda Oriental
1821–23 Brasil
1846 China
1849 China
1850-62 Angola
1855-74 Angola
1890–1904 Angola
1907 Angola
1914–15 Angola
1917–18 Moçambique
1954 Índia
1961 Índia
1961–74 África
• 1961–74 Angola
• 1963–74 Guiné-Bissau
• 1964–74 Moçambique


A Batalha de Quitombo[1] (Kitombo) foi uma batalha militar entre as forças do Principado de Soio, anteriormente uma província do Reino do Congo, e a colónia portuguesa de Angola a 18 de outubro de 1670. No início do ano, uma força expedicionária dos portugueses invadiu Soio com a intenção de encerrar sua existência independente. Soio era apoiado pelo Reino de Angoio, que fornecia homens e equipamentos, e pelos holandeses, que forneciam armas, canhões ligeiros e munições. A força combinada Soio-Angoio estava sob Estêvão da Silva e os portugueses por João Soares de Almeida. Ambos os comandantes foram mortos na batalha, que resultou numa vitória decisiva do Soio. Poucos porstugues, se algum, escaparam da morte ou da captura.

Antecedentes

Os portugueses há muito negociavam com o Reino do Congo, principalmente vendo-o como fonte de escravos. Em 1665, um exército português invadiu o reino e derrotou o seu exército na Batalha de Ambuíla.[2] O combate resultou numa esmagadora vitória portuguesa que terminou com a morte do manicongo António I (r. 1661–1665) e boa parte da nobreza. Depois, o Congo rachou numa guerra civil brutal entre a Casa de Quinzala, a qual António pertencia, e a Casa de Quimpanzo.[3] Soio, lar de muitos partidários Quimpanzo, estava ansioso para tirar vantagem do caos.[4] Poucos meses depois da tragédia em Ambuíla, o príncipe do Soio invadiu a capital de São Salvador e instalou no trono o seu protegido Afonso II. Isso aconteceu novamente em 1669 com a colocação de Álvaro IX no trono.[5]

A esta altura, tanto os portugueses como as autoridades centrais do Congo estavam a ficar cansados da intromissão de Soio. Enquanto os Quinzala e outros no Congo viviam com medo de uma invasão do Soio, o governador de Luanda temia seu poder crescente.[5] Com acesso a mercadores holandeses dispostos a vender-lhes armas e canhões, além de acesso diplomático ao papa, estava a caminho de se tornar tão poderoso quanto Congo antes de Ambuíla. Comprometendo-se com o impensável, a fraca autoridade central do Congo pediu a Luanda que invadisse Soio. Em troca, a Portugal foi prometido dinheiro, concessões minerais e o direito de construir uma fortaleza em Soio para impedir a entrada dos holandeses.[6]

Preparações

Reino do Congo cerca de 1701 e as principais facções da guerra civil

O governador de Luanda, Francisco de Távora, ordenou que uma força lusitana, acrescida de aliados nativos como os temidos imbangalas, esmagasse Soio.[5] Liderada por João Soares de Almeida, era a mais poderosa força colonial que se organizou na África Central até então. Incluía 400 mosqueteiros, um raro destacamento de cavalaria, 4 canhões leves, número desconhecido de arqueiros de carga, auxiliares imbangalas e algumas embarcações navais.[6][7] O príncipe do Soio, Paulo da Silva, recebeu a notícia e se preparou.[3] Numa demonstração surpreendente de unidade pós-Ambuíla, pediu ajuda do Angoio. Angoio era ao menos nominalmente subordinado ao manicongo, mas se distanciou no século XVII. Angoio, que possuía uma grande frota de embarcações de calado raso, enviou muitos soldados ao vizinho ao sul em antecipação ao ataque.[8] Existem poucos detalhes sobre como exatamente a campanha foi travada. Foi dividido em duas fases, sendo a primeira a Batalha do Ambidizi, um combate breve mas sangrento ao norte do rio Ambidizi em junho. Posteriormente, os portugueses avançaram ainda mais para o Congo.[6]

Batalha

A batalha ocorreu perto ou numa área arborizada chamada Anfinda Angula, perto da vila de Quitombo, em outubro. No interior, ambas as forças foram capazes de se reorganizar e repor seus suprimentos. O exército do Soio aproveitou este tempo para se reequipar com mais armas dos seus aliados holandeses.[6] As forças congos reuniram-se em Anfinda Angula, que serviu bem ao Soio nas suas batalhas contra o Congo durante as invasões de Garcia II (r. 1641–1660). O exército Soio-Angoio se reuniu em torno de Estêvão da Silva e suas peças de artilharia leve.[5][9] O acesso da artilharia portuguesa foi difícil, permitindo à força aliada utilizar as peças do campo ligeiro holandês com bons resultados. Então atacaram e derrotaram os portugueses. O exército colonial foi totalmente destruído. Os portugueses não mortos na batalha morreram afogados ao tentarem fugir para o outro lado do rio ou foram capturados. Diz a lenda que os cativos foram oferecidos como escravos brancos aos holandeses.[6] Seu comandante, de Almeida, morreu durante a batalha.[5] O número de vítimas entre as forças do Soio é desconhecido.[10]

Rescaldo

Quitombo foi uma derrota humilhante para os portugueses e uma bênção para o Estado do Soio. A Angola portuguesa permaneceu hostil ao Soio e ao Congo, mas não ousaram se aventurar ali.[3] Soio e a Casa de Quimpanzo tornaram-se ainda mais poderosos na política local, mas nunca alcançaram a riqueza do Congo pré-Ambuíla como os portugueses temiam. O príncipe seguinte do Soio utilizou os contatos holandeses do Estado, nomeadamente através de missionários capuchinhos, para persuadir o papa a intervir em seu nome. A pedido do Soio, o papa enviou um núncio papal ao rei de Portugal, que obteve um acordo reconhecendo a independência do Soio e pondo fim a novas tentativas contra a sua soberania.[5]

Referências

  1. Cavazzi 1965, p. 252.
  2. Thornton 1999, p. 103.
  3. a b c Thornton 1998, p. 69.
  4. Thornton 1998, p. 78.
  5. a b c d e f Gray 1990, p. 38.
  6. a b c d e Birmingham 1999, p. 61.
  7. Battell 1901, p. 132.
  8. Thornton 1998, p. 112.
  9. Thornton 2020, p. 197.
  10. Thornton 1998, p. 197.

Bibliografia

  • Battell, Andrew; Purchas, Samuel (1901). The Strange Adventures of Andrew Battell of Leigh, in Angola and the Adjoining Regions. Londres: Sociedade Hakluyt. OCLC 959072849  A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
  • Birmingham, David (1999). Portugal and Africa. Londres: Palgrave Macmillan 
  • Cavazzi, Giovanni Antonio (1965). Descrição histórica dos três reinos do Congo, Matamba e Angola. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar 
  • Gray, Richard (1990). Black Christians & White Missionaries. New Haven, Conecticute: Imprensa da Universidade de Yale 
  • Paige, Jeffrey M. (1978). Agrarian Revolution. Nova Iorque: Simon and Schuster. ISBN 978-0-02-923550-8 
  • Thornton, John K. (1998). The Kongolese Saint Anthonty: Dona Beatriz Kimpa Vita and the Antonian Movement, 1684-1706. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Thornton, John K. (1999). Warfare in Atlantic Africa 1500-1800. Londres e Nova Iorque: Routledge 
  • Thornton, John K. (2020). A History of West Central Africa to 1850. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia