Gerty Cori

Gerty Cori Medalha Nobel
Gerty Cori
Gerty Cori em 1947
Ciclo de Cori
Nascimento Gerty Theresa Radnitz
15 de agosto de 1896
Praga, República Tcheca
Morte 26 de outubro de 1957 (61 anos)
Saint Louis, Missouri
Residência Estados Unidos
Nacionalidade Estadunidense
Cidadania Cisleitânia, Checoslováquia, Estados Unidos
Progenitores
  • Otto Radnitz
Cônjuge Carl Ferdinand Cori
Irmão(ã)(s) Lotte Frumi
Alma mater Karl-Ferdinands-Universität
Ocupação bioquímica, psicóloga, médica, química, fisióloga, investigadora
Prêmios Nobel de Fisiologia ou Medicina (1947), Medalha Garvan–Olin (1948)
Empregador(a) Universidade Washington em St. Louis
Instituições Universidade Carolina
Campo(s) Bioquímica e medicina
Causa da morte Mielofibrose idiopática
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Gerty Theresa Radnitz Cori (Praga, 15 de agosto de 1896 — Saint Louis, 26 de outubro de 1957) foi uma bioquímica estadunidense, nascida na República Tcheca (então Áustria-Hungria).

Foi agraciada com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1947, por melhorar a compreensão do diabetes. Era casada com Carl Ferdinand Cori, co-galardoado com o prêmio.

Vida pessoal

Gerty, que não é um apelido, nasceu em Praga, em 1896, na época parte do Império Austro-Húngaro e hoje República Tcheca.[1] De família judia, seu pai era Otto Radnitz, um químico que inventou uma maneira mais eficiente de refinar açúcar. Sua mãe, Martha, amiga de Franz Kafka, era influente no âmbito cultural da época.[2] Gerty cresceu em uma época em que mulheres eram marginalizadas na ciência e tinham poucos acessos a oportunidades. Estudou em casa antes de ingressas no Liceu para Meninas e aos 16 decidiu tornar-se médica. Seu tio, que era pediatra, encorajou a sobrinha.[3]

Gerty, porém, não atendia aos requisitos mínimos para ingressar, que eram conhecimentos em latim, física, química e matemática, o que a fez aprender em um ano os cinco anos equivalentes dos respectivos cursos. Gerty entrou na faculdade de medicina da Karl-Ferdinands-Universität, em Praga, em 1914, algo incomum para as mulheres na época. Foi onde conheceu seu futuro marido, Carl Ferdinand Cori.[3] Os dois se graduaram em 1920, casando-se logo em seguida.[1] Gerty precisou se converter ao catolicismo para poder se casar com Carl na igreja.[4][5] O casal se mudou para Viena, onde Gerty trabalhou por dois anos em um hospital infantil, enquanto seu marido trabalhava no laboratório.[3] No hospital, Gerty conduziu pesquisas com regulação de temperatura e tratamento de tireoide, publicando artigos sobre doenças sanguíneas.[2]

Imigração

Carl serviu no exército austríaco, na Primeira Guerra Mundial. A vida era difícil na época e Gerty chegou a sofrer de xeroftalmia devido à má nutrição com os cortes de comida. A escassez de alimentos, as dificuldades impostas à população e o antissemitismo obrigaram o casal a emigrar para os Estados Unidos, em 1922,[6] onde Gerty continuou com suas pesquisas médicas, colaborando no laboratório com o marido, em Buffalo. Em 1929, o casal se naturalizou como cidadãos dos Estados Unidos.[7][8]

Gerty publicou artigos com o marido como co-autor, bem como assinando sozinha. Ao contrário de Carl, Gerty teve dificuldades para subir na carreira e mesmo quando conseguia uma colocação melhor, seu salário não era o mesmo que dos colegas homens. Carl insistia em ter sua colaboração, mesmo desacreditado pela instituição em que trabalhava. O diretor do instituto em que o casal trabalhava ameaçou demiti-la se ela não parasse de colaborar com o marido, mas o casal persistiu, conduzindo pesquisas no metabolismo dos carboidratos.[1]

Ela estava constantemente no laboratório, onde os dois trabalhavam sozinhos. Eles lavavam seus materiais de laboratório e Gerty reclamava ocasionalmente de não ter nenhuma ajuda de Carl para lavar a louça. Quando se cansava, ela se retirava para um pequeno escritório anexo ao laboratório e descansava em uma pequena poltrona. Ela fumava incessantemente e largava cinzas pelo chão o tempo todo.[3]

O interesse do casal se concentrava, especialmente, em como a glucose era metabolizada no corpo humano e como os hormônios regulavam o processo. O casal publicou cinquenta artigos enquanto estavam no instituto em Buffalo.[3] Em 1929, eles propuseram um ciclo teorético que mais tarde lhes renderia o Prêmio Novel pelo ciclo de Cori.[7] O ciclo descreve como o corpo humano usa as reações químicas para quebrar alguns carboidratos, como a glucose, no tecido muscular em ácido lático, enquanto sintetiza outros.[6]

Preconceito

O casal deixou o instituto em Buffalo em 1931, depois da publicação sobre o metabolismo dos carboidratos. Várias universidades ofereceram a Carl uma vaga, mas se recusavam a contratar Gerty. Ela foi informada em uma entrevista que era considerado "anti-americano" que um casal trabalhasse junto.[2] Carl recusou todas as propostas em Buffalo já que ele elas não contratariam Gerty.[1]

Em 1931, eles mudaram para Saint Louis, no Missouri, onde a Washington University ofereceu um cargo a ambos, apesar de o salário de Gerty ser infinitamente inferior ao do marido.[1] Apesar de seu grande histórico na pesquisa acadêmica, Gerty foi alertada que ela poderia macular a carreira do marido.[7][9] Gerty teve que esperar 13 anos até alcançar o mesmo nível que o marido.[1] Em 1943, ela foi promovida para professora associada em pesquisa bioquímica e farmacológica. Alguns meses antes de ser laureada com o Prêmio Nobel, ela se tornou professora titular, posição que manteve até sua morte, em 1957.[10]

Nobel

Na Washington University, eles continuaram a trabalhar com tecido muscular de sapos, onde descobriram o componente imediato responsável pela quebra do glicogênio, chamado de glucose 1-fosfato, conhecido agora como éster de Cori.[6] Eles estabeleceram a estrutura do componente, identificaram a enzima fosforilase que catalizava a formação química e mostraram que o éster de Cori era o primeiro passo para a conversão do glicogênio em glucose, a maior parte dele ocorrendo no fígado.[2][11] Gerty também estudou as doenças de armazenamento de glicogênio, identificando quatro delas, cada uma relacionada a um defeito enzimático específico.[12] Ela foi a primeira a mostrar como o defeito em uma enzina pode causar uma doença genética em humanos.[13]

Em 1947, o casal Gerty e Carl Cori foi laureado com Prêmio Novel em Medicina ou Fisiologia "por sua descoberta do curso da conversão catalítica do glicogênio". Metade do prêmio foi para o fisiologista argentino Bernardo Houssay "por sua descoberta no papel do hormônio no lobo anterior da pituitária no metabolismo do açúcar".[14] Eles continuaram as pesquisas para entender e demonstrar os mecanismos do metabolismo dos carboidratos, avançando na compreensão da conversão reversível do açúcar, descoberta que se tornou crucial para o tratamento da diabetes.[2]

Morte

Pouco antes de ganhar o Nobel, durante uma viagem de escalada, Gerty descobriu que estava doente com mielofibrose idiopática, uma doença fatal na medula óssea. Durante seus anos em Buffalo, ela estudou os efeitos dos raios-X no corpo humano, o que pode ter contribuído para sua enfermidade.[1] Em 1957, Gerty Cori morreu em casa, depois de dez anos lutando contra a mielofibrose.[2] Ela continuou ativa em seu laboratório, até o fim. Recebeu reconhecimento por seus feitos e pesquisas várias vezes, como a Cratera Cori, na Lua e em Vênus. Seu corpo foi cremado.

Ela e Carl tiveram apenas um filho. Carl casou-se novamente com Anne Fitzgerald-Jones, em 1960. Mudou-se para Boston, onde começou a dar aulas na Harvard Medical School. Faleceu aos 88 anos.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h Shepley, Carol Ferring (2008). Movers and Shakers, Scalawags and Suffragettes: Tales from Bellefontaine Cemetery. St. Louis, MO: Missouri History Museum 
  2. a b c d e f «Carl and Gerti Cori and Carbohydrate Metabolism». American Chemical Society. Consultado em 6 de junho de 2012. Arquivado do original em 12 de janeiro de 2013 
  3. a b c d e Larner, Joseph (1992). «Gerty Theresa Cori» (PDF). National Academy of Sciences. pp. 113, 124, 125. Consultado em 17 de junho de 2010 
  4. «Cópia arquivada». Consultado em 21 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 12 de abril de 2011 
  5. https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/biography/cori.html
  6. a b c Chemical Heritage Foundation. «Flying, Hopping and Rolling». hemheritage.org. Consultado em 17 de junho de 2010. Arquivado do original em 20 de junho de 2010 
  7. a b c National Library of Medicine. «Dr. Gerty Theresa Radnitz Cori». nih.gov. Consultado em 17 de junho de 2010 
  8. «Nobel Lectures – Physiology or Medicine 1942–1962». Elsevier Publishing Company. 1964. Consultado em 17 de junho de 2010 
  9. Washington University School of Medicine, St. Louis, Missouri. «Gerty Theresa Cori (1896–1957)». Bernard Becker Medical Library. Consultado em 17 de junho de 2010  !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
  10. Washington University School of Medicine. «Gerty Theresa Cori (1896-1957)». Bernard Becker Medical Library. Consultado em 24 de junho de 2010 
  11. «Carl Ferdinand & Gerty Theresa Cori». nobel-winners.com. Consultado em 17 de junho de 2010 
  12. Rothenberg, Marc (2000). The history of science in the United States : an encyclopedia [Online-Ausg.]. ed. New York: Garland. ISBN 0815307624 
  13. Smeltzer, Ronald K. (2013). Extraordinary Women in Science & Medicine: Four Centuries of Achievement. [S.l.]: The Grolier Club 
  14. «The Nobel Prize in Physiology or Medicine 1947». Nobelprize.org. Consultado em 17 de junho de 2010 

Ligações externas

  • «Perfil no sítio oficial do Nobel de Fisiologia ou Medicina 1947» (em inglês) 

Precedido por
Hermann Muller
Nobel de Fisiologia ou Medicina
1947
com Carl Ferdinand Cori e Bernardo Houssay
Sucedido por
Paul Hermann Müller
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  • d
  • e
  • 1937 Emma P. Carr
  • 1940 Mary Engle Pennington
  • 1942 Florence B. Seibert
  • 1946 Icie Macy Hoobler
  • 1947 Mary Lura Sherrill
  • 1948 Gerty Cori
  • 1949 Agnes Fay Morgan
  • 1950 Pauline Beery Mack
  • 1951 Katharine Burr Blodgett
  • 1952 Gladys A. Emerson
  • 1953 Leonora N. Bilger
  • 1954 Betty Sullivan
  • 1955 Grace Medes
  • 1956 Allene R. Jeanes
  • 1957 Lucy Weston Pickett
  • 1958 Arda A. Green
  • 1959 Dorothy V. Nightingale
  • 1960 Mary Letitia Caldwell
  • 1961 Sarah Ratner
  • 1962 Helen M. Dyer
  • 1963 Mildred Cohn
  • 1964 Birgit Vennesland
  • 1965 Gertrude E. Perlmann
  • 1966 Mary L. Peterman
  • 1967 Marjorie J. Vold
  • 1968 Gertrude Elion
  • 1969 Sofia Simmonds
  • 1970 Ruth Rogan Benerito
  • 1971 Mary Peters Fieser
  • 1972 Jean'ne M. Shreeve
  • 1973 Mary Lowe Good
  • 1974 Joyce Jacobson Kaufman
  • 1975 Marjorie Constance Caserio
  • 1976 Isabella Karle
  • 1977 Marjorie G. Horning
  • 1978 Madeleine M. Joullié
  • 1979 Jenny P. Glusker
  • 1980 Helen Murray Free
  • 1981 Elizabeth K. Weisburger
  • 1982 Sara Jane Rhoads
  • 1983 Ines Mandl
  • 1984 Martha L. Ludwig
  • 1985 Catherine C. Fenselau
  • 1986 Jeanette G. Grasselli
  • 1987 Janet G. Osteryoung
  • 1988 Marye Anne Fox
  • 1989 Kathleen C. Taylor
  • 1990 Darleane Hoffman
  • 1991 Cynthia M. Friend
  • 1992 Jacqueline Barton
  • 1993 Edith Marie Flanigen
  • 1994 Barbara J. Garrison
  • 1995 Angelica M. Stacy
  • 1996 Geraldine Richmond
  • 1997 Karen W. Morse
  • 1998 Joanna Fowler
  • 1999 Cynthia Anne Maryanoff
  • 2000 F. Ann Walker
  • 2001 Susan S. Taylor
  • 2002 Marion C. Thurnauer
  • 2003 Martha Greenblatt
  • 2004 Sandra C. Greer
  • 2005 Frances Arnold
  • 2006 Lila M. Gierasch
  • 2007 Laura L. Kiessling
  • 2008 Elizabeth C. Theil
  • 2009 Kathlyn A. Parker
  • 2010 Judith C. Giordan
  • 2011 Sherry J. Yennello
  • 2012 Sue B. Clark
  • 2013 Susan M. Kauzlarich
  • 2014 Marsha I. Lester
  • 2015 Angela K. Wilson
  • 2016 Annie B. Kersting
  • 2017 Barbara J. Finlayson-Pitts
  • 2018 Valerie J. Kuck
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